A primeira vítima por dengue em Jaraguá do Sul era enfermeira, tinha 43 anos, trabalhava no setor de oncologia do Hospital Santo Antonio em Blumenau e já havia atuado por 17 anos no Hospital Albert Eisntein, em São Paulo. Kathleen Alves Nagayama tinha profundo conhecimento sobre quadros clínicos de pacientes em setores de urgência e emergência e já havia auxiliado a salvar muitas vidas. No entanto, ironicamente, familiares questionam exatamente os encaminhamentos clínicos dados a ela nas duas idas ao hospital São José, na semana passada.
NOTA DA PREFEITURA
No sábado, o Secretário Municipal da Saúde, Alceu Moretti, e a Assessoria de Imprensa da Prefeitura confirmaram a primeira morte por dengue em Jaraguá do Sul, informando que a paciente deu entrada em estado grave na quarta-feira e morreu no dia seguinte, quinta-feira, dia 04. “O Município de Jaraguá do Sul, por meio da Secretaria de Saúde, confirma o primeiro óbito causado por dengue na cidade. Trata-se de uma mulher de 43 anos residente do bairro Jaraguá Esquerdo. A paciente foi diagnosticada na cidade de Blumenau, onde trabalhava como enfermeira em um hospital. A mulher faleceu no dia 04/04/2024 no Hospital São José, após dar entrada no dia anterior já com sinais graves da doença. O diagnóstico de dengue foi confirmado através do Laboratório Central de Saúde Pública de SC (LACEN)”.
Ao contrário da informação oficial, a irmã Ingrid Lopes, relata que a morte ocorreu na quarta-feira, 03, e não na quinta, dia 04. Além disso, Kathleen procurou ajuda dois dias antes da sua morte, e não no dia anterior.
OS SINTOMAS
Na sexta-feira, 28 de março, Kathleen sentiu sintomas da dengue no hospital Santo Antonio onde trabalhava, em Blumenau, e como morava em Jaraguá do Sul, foi liberada para eventual tratamento, caso os sintomas evoluíssem para um quadro mais grave. No documento, encaminhado pelo Hospital, a médica solicitava prosseguimento em tratamento para suspeita de dengue
Na segunda-feira, primeiro de abril, ela avisou a irmã Ingrid que estava ruim e que estaria se deslocando com um veículo de aplicativo para o pronto-socorro do Hospital São José. Ela deu entrada às 12h08m e foi liberada por volta das 17 horas, medicada com Diazepan, por provável crise de ansiedade.
Em casa, com o passar das horas, o quadro piorou. No dia seguinte, terça-feira à tarde, 02 de abril, Kathleen voltou para o Hospital. Desta vez numa ambulância do SAMU. A irmã depois de constatar durante a manhã que a temperatura estava muito baixa, acionou o serviço de urgência que a conduziu em estado grave para o Hospital São José. “Ela saiu de casa com o Samu com temperatura de 34 graus”, disse a irmã.
Eram 16h41 quando Kathleen deu entrada no pronto socorro pelo setor de emergência e de onde sairia somente no dia seguinte, sem vida. “Eu estava junto e implorei para verificarem a temperatura dela que poderia resultar em sequelas neurológicas graves pelo tanto tempo que estava com hipotermia”, destacou Ingrid.
DESABAFO
A partir deste momento, Ingrid, que também atua como profissional de saúde, com passagem de 12 anos pelo Hospital Sírio Libanês em São Paulo, relata uma série de procedimentos, encaminhamentos ou falta de atenção que, no seu entendimento, agravaram a situação da irmã.
Boa parte do relato, foi registrado como denúncia, por volta das 08 horas da manhã na Ouvidoria do Hospital, na quarta-feira de manhã, poucas horas antes da morte da irmã ser confirmada pelo hospital. Ela foi informada do falecimento da irmã no começo da tarde. A hora do óbito que consta no documento é 13h06m, pelo motivo de CHOQUE SEPTICO A ESCLARECER.
Kathleen era divorciada e vivia com os três filhos de 19, 14 e 07 anos e sua irmã Ingrid. As duas vieram para Santa Catarina em busca de uma vida melhor e mais qualidade de vida. Agora, Ingrid já pensa em retornar para São Paulo. “Minha luta agora é para que não seja em vão a existência de uma profissional extraordinária”, desabafou.
REVOLTA
A família também está revoltada com a exposição dos dados pessoais de Kathleen, inclusive com foto, nas redes socais, por parte de alguns veículos de comunicação. O fato surpreendeu, chocou os filhos de Kathleen e a própria Ingrid, quando se depararam com as informações e as imagens na internet. “Ficamos sabendo da causa da morte pela imprensa”, disse a irmã relatando que várias pessoas começaram a marcar os familiares nas redes sociais antes que eles mesmo fossem informados pelas autoridades da saúde sobre a causa da morte.
RESPOSTAS
O Departamento de Jornalismo da RBN entrou em contato com o Secretário Municipal da Saúde, Alceu Moretti e com a Assessoria de Imprensa do Hospital São José, informando o teor das reclamações e as contestações da família. No entanto, até o fechamento da matéria, não houve retorno.
OBITOS LACEN
A morte por dengue em Jaraguá do Sul ainda não estava no painel do Governo Estadual nesta terça-feira, 09. Na região nordeste constam 22 mortes, sendo 15 mortes em Joinville, três em São Francisco do Sul, duas em Araquari, um em Barra do Sul e um em Garuva. No total, são 70 mortes em Santa Catarina. O site informa que os números foram atualizados às 18h.